
Arão Saraiva de Araújo, professor da Escola Estadual Augusto Meira Filho, no bairro de São Brás, em Belém, Pará, realmente morreu vítima de H1N1. O resultado
dos exames comprovando a causa da morte foi divulgado no início da tarde de ontem pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Pela manhã, alunos se recusaram a assistir aula. A morte do professor de inglês, na madrugada da última quinta-feira (23), ainda preocupa os estudantes. Alunos e professores pedem que a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) e a Sespa tomem providências para higienizar o local e cedam vacinas para prevenir novos casos da doença. Pela tarde, uma equipe da Sesma foi deslocada para ir à escola realizar uma palestra educativa.
Durante parte da manhã, os alunos ficaram reunidos em frente ao portão de entrada do Augusto Meira. Muitos voltaram para suas casas. Mauro Almeida, 15 anos, aluno do primeiro ano, afirma que a preocupação é geral. “Tá todo mundo com medo. A gente queria que tomassem alguma atitude logo. Eu acho que tá todo mundo correndo risco”, diz o estudante.
Abel de Araújo, filho do professor, não descarta a hipótese de o pai ter contraído a H1N1 no colégio Augusto Meira. “Se a vacina fosse disponibilizada para educadores que trabalham em local fechado com aglomeração de pessoas, a morte do meu pai poderia ter sido evitada. Nesse momento, vários outros educadores estão correndo o mesmo risco”, alerta.
SEM RESPOSTA
Segundo Abel, se até hoje a Sesma não se pronunciar atendendo aos pedidos dos moradores do Residencial Paulo Fonteles, no bairro do Mangueirão, a rodovia Augusto Montenegro será fechada amanhã. “Nós queremos ser vacinados. Tenho um sobrinho e uma vizinha que estão internados e sendo tratados com remédios contra a influenza. A Vigilância Sanitária diz que não pode fazer nada. É um desrespeito”, desabafa Abel.
Segundo o Sindicato dos Professores do Estado no Pará (Sintepp), a direção da Escola Estadual Augusto Meira Filho solicitou higienização do local, limpeza dos aparelhos de ar condicionados, distribuição de máscaras e orientações à comunidade escolar. Na próxima terça-feira (4), alunos e professores prometem fazer um ato público em frente à escola como forma de mostrar indignação pela morte do professor.
A assessoria de comunicação da Sesma informa que o órgão responsável por atender a demanda de Abel Araújo é o Departamento de Vigilância em Saúde da Sesma (Devs), por isso a Vigilância Sanitária informou que não poderia ajudá-lo.
CUIDADOS PESSOAIS
A Secretaria Municipal de Saúde esclarece ainda que as medidas preventivas a serem adotadas por alunos e funcionários da Escola Estadual Augusto Meira são pessoais, cuidados de higiene para não contrair a gripe. “A Sesma informa, ainda, que uma equipe do Devs atuará em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde na realização de palestras para orientar alunos e professores sobre doenças respiratórias”, explica em nota. A programação, que iniciou ontem, acontece até amanhã.
A Sesma ressalta ainda que segue orientação do Ministério da Saúde, que autoriza a vacina para o grupo de risco (gestantes, mulheres que tiveram filhos recentemente, idosos, crianças de 06 meses a 02 anos, portadores de doenças crônicas e trabalhadores da saúde) contra o vírus H1N1.
“Caso exista alguém do grupo de risco no residencial Paulo Fonteles, é importante que esta pessoa se dirija à sede do Devs, na rua Angustura, entre 25 de Setembro e Duque de Caxias, para tomar a vacina, que estará disponível até o dia 29 de maio”, informa a nota.
MARITUBA
Arão também lecionava na Escola Estadual Fernando Ferrari, em Marituba. Por isso, estudantes do colégio protestaram em frente à instituição pela suspensão imediata das aulas até que a direção da escola entrasse em contato com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) para solicitar que todos os alunos sejam imunizados contra o vírus H1N1 e também orientados sobre os cuidados para evitar contaminação.
Boletim pode não ter números reais
O número de notificações e óbitos ocasionados pelo vírus da gripe pode ser ainda maior que o anunciado no mais recente boletim da Sespa. “Temos um quantitativo muito grande de municípios que não têm nenhum caso notificado. Não podemos garantir que realmente não está acontecendo ou se estão silenciosos. Os casos podem estar acontecendo e não sendo notificados e, o que é pior, não sendo tratados adequadamente”, disse Ana Lúcia Ferreira, coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
De acordo com a coordenadora, os casos de SRAG devem ser notificados imediatamente. Para levar mais informações sobre a doença e melhorar a qualidade de atendimento nas unidades de saúde do Pará, profissionais de saúde participaram ontem do Seminário Estadual Influenza: Prevenção e Manejo Clínico. “O protocolo fala sobre o manejo adequado dos casos de influenza, de Síndrome Gripal (SG) e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)”, explicou Ana.
O protocolo aborda tópicos como a questão do tratamento e a necessidade de atenção especial a pessoas que estejam no considerado grupo de risco (crianças menores de dois anos, gestantes, pessoas com mais de 60 anos, profissionais de saúde e portadores de doenças crônicas).
A população também não deve descuidar dos hábitos de higiene e procurar tratamento para qualquer caso suspeito. “Não é uma situação de pânico, mas também não pode gripar e ficar em casa. Gripe não é mais uma doença que pode ficar em casa com vitamina C e cama. Tem que procurar um médico. Algumas pessoas demoram muito para procurar o médico, outras vão em busca do serviço, mas não recebem o cuidado adequado. É isso que queremos evitar”, disse.
Mesmo a campanha de vacinação já tendo sido encerrada oficialmente, alguns municípios paraenses ainda estão realizando o procedimento.
Um milhão de caixas de Tamiflu chegam aos Estados
Todos os estados estão abastecidos com o fosfato de oseltamivir, medicamento conhecido comercialmente como Tamiflu. O Ministério da Saúde mantém estoque estratégico do remédio. Só neste ano, foram enviados às secretarias estaduais 1.074.180 tratamentos do medicamento na fórmula adulto (75mg) e 151.300 caixas de uso pediátrico. Antes desta distribuição, no entanto, os estados já possuíam estoque de 720.280 caixas para adultos e 87.666 para crianças.
Técnicos do Departamento da Assistência Farmacêutica monitoram os almoxarifados estaduais e, caso haja necessidade ou novas solicitações, mais remessas serão enviadas. O medicamento é oferecido gratuitamente na rede pública e reduz complicações e óbitos pela doença.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomenda aos estados e municípios que facilitem o acesso ao medicamento. Para isso, sugeriu que o antiviral seja disponibilizado em todas as unidades de saúde, nas UPAs, nos prontos-socorros, facilitando o acesso ao tratamento. Para retirar o antiviral, basta apresentar a prescrição médica.
Diário do Pará
Postado por Estado do Tapajós